2025/08/23

Obcecado por cores

 Aqui ao pé de mim,

Está a arder a luta,.. 


Um pé de lonjura, 

 antecede a morada certa que terei,

Quando o mundo deixar de girar,.....


Obcecado por cores,

Pelo contorno escasso de estar só,...


Não há móvel que se salve na sala do desânimo,

Nem um copo,

Uma celha de vinho intacta para o conforto,...


Desacreditado em novos dias,

Sigo em alusão ao vento,

À brisa do recomeço 

                                                                    Tirado daqui

2025/08/22

E já noite encorpada,....

 Eles não eram daqui,

De roupas insinuantes mas desajustadas,
Arrastavam sombras disformes e grotescas,
Que o sol deste lado do mundo,
esfregava nas caras autóctones,...

Era fim de tarde,
Uma hora afundada em solidão própria,
Que brincava com a luz para desfazer em pedaços de calor insinuante,....

E eles apresentavam-se,
De silêncio em silêncio,
Mas com um saber de desilusão feito,
Experimentavam o volume,
A comida parca,
Os beijos entre vielas,....

E já noite encorpada,
Retiraram-se dos olhares de chumbo,
Talvez ali fosse sitio de lançar raízes 

                         Tirado daqui

2025/08/21

Só uma sombra

 Não havia o que sobrou do restante,

Só uma sombra,
Dois ou às vezes três resquícios de uma ideia torpe,...

E no topo do entardecer,
Quando em cada ponta de uma mesa,
Levávamos adiante uma noção inovadora de comunicação,
Era subordinados aos sons do silêncio,
Amarrados um ao outro,....

Desanimados numa noção estranha de felicidade,....

E às vezes,
Com os cabelos soltos pela mesa,
Que contávamos histórias do passado que já fora nosso
                           Tirado daqui

2025/08/20

De total descontrolo sensorial,....

 Mas o tempo,

Saber que se preenche ansiedades,
Um velho infiel é contrariado,
Saber que os espaços da pressão se desbastam com tanta vontade de que isto continue,....

E há as vozes,
Tantos gritos embrutecidos,
Desmaiados,
Num corpo de uma mulher,
Tudo se desmaia gradualmente desta forma,....

E o contrário de prazer,
De total descontrolo sensorial,
Vai-se gradualmente consumindo na noite impoluta,
Que surge da terra
                            Tirado daqui

2025/08/19

Histórias de anonimato,....

 Dois corpos estranhos,

Desavindos,

Fora de época e de som,

Esperam-se à porta de um tempo que não existe,...


O olhar não irá para já cruzar-se,

Há cheiros enfáticos,

Saídos de uma página de livro por escrever,....


Histórias de anonimato,

Transparências que ambos recusam,...


Só está em causa partilharem caminhos,

O que não irá mesmo acontecer,...


O amor talvez,

Mas não agora 

                                                                          Tirado daqui

2025/08/18

A sopa arrefece,...

 É difícil ser como nós,

A sopa arrefece,

A água é choca,

A cabeça dói e vamos a caminho de uma cena brechtiana,...


Não há ilusões,

Em linhas curtas como as que te deixo,

Cabe um ancinho sujo de terra,

A entrada de minha casa conspurcada pelo mal dizer,

O desvario,

A provável assunção do mal no próximo trovão que cair,...


Por isso ser como nós,

É o peso que falta para levitarmos acima da mediania




2025/08/17

A VONTADE..

 Não era minha,

Uma carta extensa,

Dorida,

De autor até indefinido,...


Tornou-se até o motivo de conversa daquele círculo intelectual,

Porque diziam dela um Apocalipse,

A VONTADE extrema de agradar,....


Desconhecia-se mesmo de onde tinha vindo,

E lá fora amanhecia,

Como que se explicasse a si próprio um enigma sem idade e sem rosto 

                                                                   Tirado daqui

2025/08/16

O instrumentista

 

Se o instrumentista ganhou espaço próprio,

Com músicas influentes,

Fáceis de compreender para os velhos que se recostam à sombra da morte,

Ele merece que o tempo deixe de ser um seu inimigo,...


Pode vencer as sombras da rotina,

Impor-se à menina inocente,

E à mãe angustiada,...


Ele o que espera por uma inocência como a da menina,

E foge da angústia de todas as mães,...


Que se ouça o instrumentista,

Enquanto os carros apitam,

Estrada abaixo

                         Tirado daqui

2025/08/15

...um pedaço de chama da imortalidade

                              Tirado daqui
Como duvidas de mim? Agora que há sol. A luz custa menos a suportar. A minha verdade sempre foi da escuridão. E meu foi o reino da dúvida. Do obscurantismo. A tua nudez amedrontada. O espaço de um recato, de afrontas fáceis de suportar como a imortalidade numa noite, foram mitos que afastei com gestos subtis. Olhares vagos e hesitantes. Um mar que te apontava, sem sequer estar lá. Percebo que não sou uma pessoa seguida. Consecutiva. Há horizontes de um verão que morre mais intensos e confiáveis que eu. Mas, ainda assim, não mereço dúvida. Sou o reflexo de discursos consecutivos de neutralidade. E um dia, trouxe-te até um pedaço de chama da imortalidade, preso no coração de uma flor de beira de estrada que te colhi, e definhou à sombra do teu coração triste. Fui aberto à inocência. A livros e livros abertos que têm sido muito do nosso tempo juntos. Por isso, como duvidas de mim? Não me sugere nada o espaço enorme de dor que se avoluma entre nós, enquanto te sinto, fluida, a escapar-me entre os dedos....
 

2025/08/14

Estava num plano alternativo

 Cuspia cobras pelos dedos,

Uma ideia breve,

Que provava o macabro da situação,....


Ele o inocente,

A pessoa resignada à vulgaridade,

O que lia e previa as desilusões,....


Era afinal diferente,

Tristemente diferente,

Mas uma pessoa que não encalhava na salsugem dos dias,....


Estava num plano alternativo 


De:Pascal Campion

                         Tirado daqui

2025/08/13

Quando o dia ja se desfaz,..

 O medo de cada um tem roupas compridas,

E diz que a nossa casa vai arder,....


É um bicho silencioso que nos morde os artelhos,

Quando o dia já se desfaz,....


Um medo encorpado,

Alcoólico como um vício antigo e hereditário,...


O senhor Canales,

O velho galego que conheço desde sempre,

Está sempre a dizer-me que o encontrarei no centro da cidade,

Catatonico,

A precisar de hospitalidade,...


Talvez seja hoje

Tirado daqui

2025/08/12

Que nao haja receitas de sono,....

 Nada de gestos novos,

Sinónimos de mudança,
A porta por abrir e um desânimo em vários idiomas,....

Quando me esperam resignado,
Eu sou o que assim,
Cheio de sofismas,
Com a roupa rasgada,
E destruído pelas veias sem cor,
Sei dizer o que devo,....

Ter gestos proselitos,
E a noção errada de um momento inexplorado,....

Que não haja receitas de sono,
Neste flanco de pessoa acomodada,
que agora é teu
                                Tirado daqui