2025/10/15

Je t'aime

 E bastar-se,

dizer c’est sufisant,

o gesto,

o modo,

Pensar em códigos

diferentes dos habituais,…


não é diferente,

achar que o sol queima

mais que a chuva,

do que usar a chuva

para fugir,….


e dizer que se gosta,

não que se gostou,

je t’aime,

falando noutro cenário,…


e amanhã há mais,

se assim

for o querido

                                                                 Tirado daqui

2025/10/14

Sou o mesmo de sempre,..

 Eu não falhei,

Olho-me ao espelho e são risos que desfaço,

O gosto acentuado da mortificação,

Rugas que circunscrevem um rosto enfesado,...


Arredado da alegria,

E das letras inocentes de músicas esquecidas,....


Sou o mesmo de sempre,

Com defesas de general anónimo,

Um ataque estruturado mas que prenuncia o derrotismo,...


Por aqui continuo,

A mirrar,

Sem que me vejas,

E o mundo pare de girar,

Só porque lhe peço 



De: Berber Theunissen

2025/10/13

Uma casa sem dono

 mas querem entrar,

não batam com a porta,

a casa é frágil,

uma mulher desusada

e sem norte viveu aqui,…


as paredes abanam com a

versão brusca,

do que tendo sido o seu

desaparecimento,

é agora cantado pela vontade

suja do povo,....


arrisquem um sonho,

a pressão de resolver

mal este cenário,

porque esta terra,

o papel rabiscado das

vidas e mortes deste povo,

torna instável o antigo lar,

que agora é uma casa sem dono

                                                                        Tirado daqui

2025/10/12

O céu escurece,....

 Estou farto de escrever direito,

o papel é torto,

o coração é desnivelado,

as pernas cansam,

o corpo ofega,…


e se te afastas do que é o destino,

o céu escurece,…


o regresso ao embalo dos desejos frustrados,

dos sonhos por concretizar,

é certo em tons de azul pastel,…


e a escrita torta,

sem sentido,

para públicos sem nome e apátridas,

será a solução concatenada


                                                                    Tirado daqui

2025/10/11

O teu desnorte,...

 A minha razão,

O teu desnorte,

Fracas visões da dúvida,

Uma manta estendida no chão imenso,....


Por vezes a passar por cima do choro,

Outras sozinho,

Sem luz,

Com o corpo afunilado no escuro que nos rouba o desejo,....


De tudo te deixo um escrito,

Trémulo,

Em papel velho e decano,...


Mas fiel a uma experiência,

Mais que sensorial


                                                                             Tirado daqui

2025/10/10

Há pequenos sons,...

 Dito de outra forma,

A sombra está projetada nas paredes sobrepostas deste sítio,...


Há pequenos sons,

Fugidios,

Que escapam ao sentir básico das pessoas que por ali passam,....


Entende-se mal a explicação histórica,

Deste que é um monumento esquecido,

Onde terão passado reis,...


Princesas partidas de coração,

E até um bobo,

Homem enlouquecido,

E do qual se sente ainda a virtude escondida que esgrimia em silêncio 

                                                                        Tirado daqui

2025/10/09

O rosto do que arde,...

 não sabemos de todo,

o rosto do que

arde,

as insuficiências

do que fica,....


passos soltos,

que deixam para trás

a ruína,....


nem suspeitamos,

que quando quem

respira,

ofega,

esforça-se por

agarrar a vida,...


há um relógio que

se move,

lentamente,

em sentido oposto

à previsão de que a Terra

 vá deslizar,...


e os corpos podem,

porventura,

agarrar-se

com dificuldade,

às impaciências de existir


                                                                    Tirado daqui

2025/10/08

Saberás de novo ler sangue,..

 À pressa,

O teu corpo não é o meu,

Sei só que quero escrever um livro,

E pensar em cardos,....


Dizer de abraços que eles não me merecem,

E quem sabe,

Quando o cheiro a desejo esmorecer,

E for noite onde te deitas esquecida dos meus passos,

Saberás de novo ler sangue,....


E com isso volto a erguer-me,

Chamarei ponta de sol aos pés cravantes do escuro no meu peito,

E depois será com as minhas regras,

A minha vontade,

E a tua mão à procura da minha

                                                                                Tirado daqui

2025/10/07

O amanhã depois,..

 As vezes de partes,

São mais que os muitos de nunca,

E as hesitações de tantos,...


No meio das pausas do orvalho,

Tentar um caminho nas imprecisões do que como isto é indefinido,...


Não tem voz,

Nem sequer linhas de passos irregulares,

E Torna difícil a precisão de um abraço,

De um toque,....


E como eu o mundo agora,

O amanhã depois,

A noite despida de pele morena,

Quando chegar 

Autoretrato nas orquídeas
Claude Cahun
1939

2025/10/06

Um cão acentuado,...

 Há quantos meses,

Divertido mas soturno,

Um cão acentuado caminha sem destino,....


Parti por entre os desiludidos,

Recordo-me,...


Era um final de verão acrescentado,

Com desenhos toscos,

E sentia-me só,...


Mas realizado 

                                                                 Tirado daqui

De: Felix Vallotton
Squatted Woman Offering of Milk to a Cat
1919

2025/10/05

E que gostava de escrever à noite

 Soube que ele estava a escrever um livro. Contaram-me, mas ninguém parecia saber qual seria o final do mesmo. Sabia-se que havia duas mãos sobre o manuscrito. Ele recusava vender-se a auxiliares mecânicos da ligação cérebro-membros humanos. E que gostava de escrever à noite. Quando a lua esticava os braços, e o sol deslizava pelos rebordos do mundo, para ir mostrar o seu rosto no outro lado da existência.

Gostava do escuro. A profundidade da descrição das personagens, tornava-se assim mais intensa. Mais fantasmagórica. E com números claros de desilusão, plasmados nos respetivos rostos. Ele era isso: um autor de desilusões. E secreto. As pessoas que o conheciam, dedicavam-se a uma observação casual, mas atenta. Eu incluído.

Decompunham-se os seus gestos de rotina; quando saía de casa, e descia a rua para o primeiro café da manhã. Quando voltava já ao entardecer, cabisbaixo, com cuidado para evitar os desníveis do terreno da zona velha da cidade onde escolhera morar. Imaginei, pessoalmente, se isso constaria do enredo. Pensei em mulheres anódinas, conciliadoras, que viviam para a família, mas em segredo alimentavam desvarios que só elas próprias saberiam descrever. E ele era pessoa para captar isso, e descrever em figuras de estilo. Um baile de rua de figuras de estilo, atraentes e atrativas

                                                                          Tirado daqui

2025/10/04

e comer a ansiedade,..

 todos os planos

nada

fizeram por mim,

pensava no retorno,

nos triângulos do retorno,….


nas linhas retas

por que deixa de se regressar,

em círculos,

dias infindos

a andar à volta de um

ponto mínimo no chão,....


e sentir que

era noite,

baixar-me para

apanhar o pó,

e comer ansiedade,

 doses monstruosas de

descontrolo,….


 que me faziam perder

 a história,

e pensar em chamar-me

Manuel de Qualquer Coisa,

o protetor das horas curtas,....


e era isso,

nada adiantava

planear,

só esperar



                                                                   Tirado daqui

Felix Tobeen

On The Dune

Cerca de 1914